terça-feira, 26 de março de 2013

Céu

Um tanto perplexo com o pouco
de energia que tu não desprendes
desse belo corpo para chegares
até mim, tendo eu feito
loucos caminhos até você.

O que digo? Não era para ser isso
um deleite, um desfrute, uma excitação?

E foi, e algo que foi já não o é.
Cansei de ficar só parado só.

Já lá se foram palavras, filmes, carinhos.
Já comigo ficam poesias, chocolates, beijos
nunca dados, dados não registrados.

Mar, mar, mar:
que tanto tenho repetido essa mesma palavra?
Pareço um desses pássaros falantes
desses que poderiam voar
não fossem as gaiolas as que adentraram.
É bonito um bichinho de estimação...
É deveras bonito, decerto, a prisão...

Mas, mas, mas:
a gaiola esteve sempre aberta
eu que esperei quem estava lá fora
se encantar pelo meu falatório.
Palavras cíclicas não me tiraram daqui
seu olhar rubi é a pedra a pesar meu coração.

Cansei, cansei e voei, e agora não será
tão fácil voltar, pois me falta querer.

O interessante disso tudo foi um vislumbre
um entreolhar para além do presente
uma vontade que cresceu dentro de mim
um querer aquém dos presentes.

Minha realidade virá narrada ao vento
a brisa no céu não me trás lamento
não sinto o mar, mas o vejo bem lá embaixo
não fixo o olhar, sigo e sossego o meu facho.

Esse vislumbre do que nunca vi, esse
amor pelo que nem sei
- tudo humano, demasido humano,
- voando sobre humanos busco outros como eu

busco quem bata asas num ritmo tão natural
que ao nos encontrarmos será como se já
ali estivéssemos libertos de todo o mal.


Gabriel S. C. Bernardi



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