segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Foice



Aquele que morre para virar um fantasma
Ignora por certo o próprio corpo
Segue como se seguisse outrem
Cega seus olhos para o Além
E não chega nunca a ninguém

Aquele que morre mas vive
Seja num livro, num filho
É um espírito meio livre
Preso muito na memória

O outro que nem sabe se morreu
Será que sabe a pena que viveu?

O importante é que todos morrem
Uns bem antes, outros depois

À Foice nenhuma prepotência resiste
Largue então suas amarras, oh, alma triste!


Gabriel Bernardi

domingo, 1 de abril de 2012

Ao sujeito preso na Torre de Babel

Pegue de volta tudo que levaram
Pegue e guarde
Mas não acumule
Deixe vazar sem esvaziar

Veja as árvores da sua infância
As plantas do jardim
Ao menos uma flor
Um jasmim

Olhe para o alto e veja as nuvens
Acene para a lua
Inteira ou velada
Seus sentimentos crescem
Rumo ao nada

Devolva o relógio que lhe deram
Para acompanhar seu tempo
Algo que inventaram
Esse tempo

Largue as algemas
Acompanhe as folhas soltas
Soltas ao relento
Soltas no vento

E só siga essas palavras
Se elas significarem algo
Voe, crie, ria por dentro e escreva
Se isso fizer sentido para você
Babel não é assim tão fácil de entender

 
Gabriel Carvalho