quarta-feira, 25 de julho de 2012

(A)teus olhos

Houve uma hora em que eu tentei falar
Minha boca estremeceu
Não fui eu quem falou

Houve um tempo em que eu baixei a cabeça
Meus olhos ao chão
Não fui eu quem calou

"Quem somos e fomos não é fato
Não é aquilo que se conserva em porta-retratos"

"Isso é difícil de explicar
Não é sobre o tempo ou sobre um lugar"

Aconteceu que nos movemos e a Terra também
Um preso no sul da bússola de ninguém

Acima e mais próxima do mar você está
Para onde eu não sinta o seu olhar

Ouve o que agora posso falar
Antes um vulto do que não se crê
Ouve o que meus olhos podem mostrar

Antes que a hora venha até você
E meu sorriso se esmoreça
Faço um esforço para que não se esqueça

"Meu corpo se realiza em todos seus passos
Minha mão desenha as suas envolta em seus traços"

"A felicidade que veio não foi a que jogou
Você aos céus - mas a da dúvida que ela evaporou"

"Nossos afetos nos aquecem mesmo no inverno
A cada tempo e local quando a dois estivermos"

"Aos ventos de novo, os mesmos dos vãos,
Voamos nas brechas do tempo de 10-união".


Gabriel Bernardi


terça-feira, 24 de julho de 2012

Rosazul



Eu faço o que faço e digo o que digo:
Duvido ainda um dia ser compreendido;
Dos sonhos acordados sem perceber
Um bosque de cerejeiras a florescer.

Suas folhas - pétalas rosas - caíram
Por cada despedida de nossos abraços,
Que braços, quem sabe, só eram um olhar.

Suas cartas - pétalas rosas - vieram
Veladas aos sentidos, atadas por laços;
Que nó desastrado: desfaço e no ato me faz amar.

Faço o que digo ou digo o que faço?
Não será agora o domínio dos passos.
Nossa nau segue bela mesmo sem precisar
De um leme ao léu nas ondas do mar.

Gabriel Bernardi


sábado, 14 de julho de 2012

Da maior importância


Numa plataforma de trem esperando o expresso,
enquanto as únicas coisas que passam
depressa - até voando -
são as impressões da estadia.
Precisaria ele se distanciar para senti-las;
para sentir falta e sonhar?
Phatos da distância?
Sintoma patológico?
Mas não é lógico que,


para uma espécie tão complexa,
tão simples, difícil,
o amor surja na falta?
A final: se o encontramos,
o que mais desejar?
Afaste-se!
Ou a morte será a próxima parceira
disfarçada com seu codinome mais cruel:
Cotidiano.


Gabriel Bernardi

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Vi(n)das


Vi vida onde só há via vinda,
Pois só havia vida na vinda via.
Cri que nas vias de viver eu viria a morrer,
Quando me vi renascer onde ri e criei.

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Gabriel Bernardi