terça-feira, 30 de outubro de 2012

Zumbido

Era um jogo violento em que ambos despiam armaduras e capas, expondo-se ao relento.

Quando um insistiu em suas tralhas vestir, subjugou o outro, reprimindo-o em seu agir.

"Se é assim que obténs vitória, escondendo sua história, dou-te, Morte, derradeira glória!"

Mas de nada adianta: enterre-a como pode, vire-se e verás que se levanta.


Gabriel S. C. Bernardi


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Luminescência

Festa de luzes no céu:
Todo o reparo alheio
Em foco no grande dia de véu,
Grinalda e mais rodeios.

Estive por terra,
Aprumada e acesa.
Mesmo em tempos de guerra,
Minha haste mantive tesa.

Minha beleza ao acaso
Um puro fotógrafo viu,
E com um flash e um sorriso,
Quebrou o que eu tinha de vil.

Minha fugaz lembrança
Do homem sutil
Mantém viva esperanças
De rever quem me sorriu.


Gabriel S. C. Bernardi


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Silvo

Das penumbras fecundas do ventre terrestre ela emerge.
Herege: é cobra venenosa, que entorpece sua presa com hálito de cidra.

Fala com uma voz tão mansa, que a caça, de olhar vidrado, pensa que só descansa.
Num único bote - preciso e violento - varre a vida do palerma, arranca tudo que é alma e ânimo, deleitando-se até o último "ai".

Feliz de ser vil, em todo o seu esplendor, digere pele e carne em sibilos de torpor.


Gabriel S. C. Bernardi