quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Ascensão

a névoa é o sopro
a colina o teu corpo
aos poucos chego ao topo
e ao fim estamos roucos


.               Gabriel Bernardi



quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Elas

ela que ama ela
propõe um casório
algo beirando o simplório
ela que gama nela
espanta-se na hora
fica ou vai embora?
ela que ri e é bela
pinta mundo em aquarela
dando tudo a entender
numa só piscadela


.            Gabriel Bernardi

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Face

o mesmo desfile de máscaras
meus olhos como público
são cúmplices dia após dia

a mão que faz deslizar
a passarela de fundo azul 
vive rápida e em euforia

alento é só um link
onde identifico ideia minha
que de minha não tem nada
senão a ideia de ser minha

saio sem nunca estar fora
não aguentaria essa condição
se não está atualizada
de que vale a minha ação?


.                Gabriel Bernardi



terça-feira, 4 de novembro de 2014

Cachaça

de ponta-cabeça
desponta à beça
água 
ardente
cachaça:
misto d'água
cana
álcool
e trapaça
                             
       
Gabriel Bernardi



Céu engarrafado II

vivo de perder guarda-chuvas
um bom negócio
ganha-se em chuvas
e não se exigem sócios

Gabriel Bernardi

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Processo vital e Escultura de gelo

descobertas as doenças
das almas não se ouviram notícias
decretada a sentença
de que não houvesse mais carícias

Gabriel Bernardi



.                                                                                                            amor de gelo
.                                                                                                            derrete no verão
.                                                                                                            dois corpos que padecem
.                                                                                                            e derretem pelo chão

.                                                                                                            Gabriel Bernardi

domingo, 12 de outubro de 2014

(E)terna viagem

Teu corpo não mata minha sede,
Tuas curvas não levam a caminhos claros
E teu nariz,
Ah, o teu nariz,
Como me provoca.

Meus músculos reagem,
Meus olhos piscam
E a boca falha em manter o segredo 
Dessa hora guardado 
No fundo da garganta.

É uma viagem louca:
Cansa, mas não se cansa
Quer-se o fim, mas não se quer que acabe,
Mostra-me de súbito o infinito
Durante apenas alguns instantes,
Para se desmanchar em breve
Bruma de uma onda passageira.

E o universo esteve ali
Como um doce mistério.
Busco em tua pele e em teus olhos, 
Noite após noite, 
Por isso que nunca terei realmente.
E é quando vivo de verdade,
E é quando sou também você.


                              Gabriel Bernardi

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ligação perdida

posso ouvir o seu sorriso
do outro lado da linha
enquanto me calo
e meu coração palpita
você pergunta o que foi
sem nunca ouvir resposta

confesso
ao cabo de fibra óptica
nossa ligação foi curta
e se não fosse por tudo
seria ótima


Gabriel Bernardi

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Manhã do café

a xícara de café fumega
vapor que narra histórias
onde a fria realidade nega

meus olhos afundam
imergindo em água negra
perdidos em memórias
são o brilho dessa manhã de treva

                           Gabriel Bernardi



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Do tempo

A quem cabe o depois?
A você
a mim
a nós dois?
A quem cabe,
se nosso tempo não cabe
no presente do hoje
no ontem do amanhã?

A nossa hora mais lenta,
o nosso dia mais rápido.
O tempo é isso:
isso que nós criamos
o tempo todo.


           Gabriel Bernardi

quarta-feira, 16 de julho de 2014

domingo, 15 de junho de 2014

Inconcebível

hoje o dia não raiou
sem poder conceber
o céu se rasga em prantos
meu peito, no entanto,
se conserva e cresce
com o peso do impossível
minhas mãos sem tuapele
são como pedras na água
ondas que se dissipam

              Gabriel Bernardi

terça-feira, 27 de maio de 2014

Contra o tempo

acorda um dia cinza
nuvens de chumbo
grossas e indelicadas
se chocam como tanques

abaixo meu coração
ainda dorme sonhando
e no que sonha festeja
o amor em seu instante


Gabriel Bernardi

sexta-feira, 16 de maio de 2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

AR

Peito que vai
                    peito que vem
No disparo da bala
                    no compasso do trem
                    um peito que se detém
Fôlego - brisa que se interna
                                          liza

                              Gabriel Bernardi

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Trying to sleep no matter what

Um pensamento invasivo
quebra meus olhos já cansados
perguntando se por acaso vivo

- Nem por acaso, nem por plano dado
mas por uma ideia a ser elaborada

Viro-me de lado

- Uma outra hora que não agora
às duas da madrugada


                               Gabriel Bernardi

terça-feira, 1 de abril de 2014

Cabeça quebrada

um pé de meia perdido
um pé a menos, nem ligo
ando pouco, muito manco
sinto saudade até daquela vez
que miraste em minha insensatez
o tiro perfeito do seu tamanco
esqueço a data, o número 36
sinto saudade até daquela vez

                       
                          Gabriel Bernardi

sábado, 29 de março de 2014

Sombras de luz

branca, serena, deitada ao meu lado
abraço com força quando em sonho lhe alcanço
acordo sentindo o cheirolavanda da coberta estendida

entendido que estou agora
deixo para lá o meu descanso
dou as costas para a luz da aurora
para ir atrás de você
beleza que me assombra
sem sequer lhe conhecer


                                                      Gabriel Bernardi

quinta-feira, 20 de março de 2014

Capital dos sonhos

sono lento
mundo rápido
em terra de sonhos
vence o menos prático

         Gabriel Bernardi

sexta-feira, 14 de março de 2014

Sonho lilás

tenho sono tu
tens teus braços nus
desvelados de mangas quentes
mãos que me afagam mente
sentindo-se desvanecer terra
que perde o chão céu
de azul-torpor à noite erra
esquece de nos tapar véu
e um barco à vela azul
o mar abaixo e o céu acima cor
onde descanso e sereno amor
nosso que é vermelho dor
fogo, doce, caos e amor

Gabriel Bernardi

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O mito do ciclope

Do alto de sua ambição
de certo nem lhe viu
- pequeno
e num instante
o ciclope caiu
- sereno.

          Gabriel Bernardi

Grande cegueira

 

eles cantaram tanto o hino
eu, eu, eu
que se auto-hipnotizaram
caindo de suas torres num
breu, breu, breu
giraram num ciclo narcísico
caindo ralo abaixo
além do lume
de seus parcos fachos

que um dia possam ver outros
não como objetos
- se é que não eram em si
eles mesmos
objetos
frágeis vitrais
vítimas irrecuperáveis
de suas próprias quedas
de gigantismos irreais

                 Gabriel Bernardi

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Um novo dia

breve a hora vai
segue adiante
te esquece
o teu ar pedante
se desvanece

toda minha abertura
do carinho ao exaspero
se fecha a você
que não esteve por inteiro
que vai embora ao amanhecer

a ti não digo
aos despertos, um aviso
insistir só vale a pena
se uma das almas
não se apequena


Gabriel Bernardi

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Céu engarrafado II

tudo escureceu
o que era dia agora é breu
e a chuva se arma, arma, arma
mas nunca vem
nuvens como gatilhos que não disparam

clima abafado
eu espero o verão passar 
esperando como uma chuva mal armada


                                    Gabriel Bernardi

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Sorte do dia

                                                        E aquele amor de descaso,
                                                        por alguém ou por acaso,
                                                        virou poesia
                                                        - o que mais viraria?

                                                                        Gabriel Bernardi


            

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Atemporal mente

o passado tão presente
faz pensar sobre o que há de ser
sobre o futuramente

                                                    história do antes
                                                    temporal do agora
                                                    possível presente para o depois

                                                                                                    nesse tempo inexistente
                                                                                                    sem caminho de volta ou de ida
                                                                                                    fui destinado por mim
                                                                                                    a destinar minha vida

Gabriel Bernardi



quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Supernova


corpos celestes se aproximam
adivinhando uma supernova no ar
a palavra tensão está prestes a perder o n
minha epiderme pressente a tua

pele nua por sobre a cama
a noite toda é esse quarto

tuas veias se dilatam
minha Via Láctea cruza teu espaço

consumindo o infinito que nos tornamos
gozamos até o último pedaço


Gabriel Bernardi

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Luz fugaz


uma luz que se apaga
no berço de uma vaga
onda nascente do mar
nascente das lágrimas
que não vou derramar

uma luz que voa
filha das filhas da lagoa
uma luz chamada de má
uma luz chamada de boa
uma luz que tira e também dá
 
uma luz para viver dentro
fazer do meu peito o centro
uma luz que de repente falha
foge na faia em que farfalha
 
uma luz para morrer logo
eternizada no momento
onde tombamos afogados
e reluzimos em novo alento


                 Gabriel Bernardi

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Dose de liberdade

Tem nos olhos o mar
na garganta um gole
de absinto na boca
do estômago a chegar
na pele muita roupa
pernas amolecendo
deitada na cama
adormece imóvel
assim está completa
mente em minha mente.


Gabriel Bernardi



sábado, 4 de janeiro de 2014

Sonharte

Sonhar é uma arte:
cores,
formas,
desejos,
viagens até Marte.

Sonhar é uma arte:
não tem utilidade
e sem os sonhos
não haveria
humanidade.


Gabriel Bernardi