segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Orionis



Desenhados no meu corpo
três pontos sequenciais
refletem-se em teus mares.



                                                                       Gabriel S. C. Bernardi




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Tribunal de causas interiores


O olho brilhante de lágrima
culpa-me pelo crime que fiz
e o martelo batendo no peito
é quem me condena

espero desse juiz
a leveza de uma pena.

                                                                                      
                                                                                 Gabriel S. C. Bernardi



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A função da arte/1

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!


Eduardo Galeano (O livro dos abraços)




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O sonho como norte da realidade



O celular despertou e me impulsionei de modo que me levantasse rápido para descer e tomar o café da manhã... “Descer e tomar o café da manhã”? Eu não estava mais no retiro onde passei treze dias das minhas férias, mas sim no meu quarto, dentro de um apartamento de um andar apenas e sem nenhum compromisso aparente me impelindo a correr. Fiquei ali. As imagens que já se apagavam na mente eram de eventos com pessoas que conheci há poucos dias, pessoas que compartilhavam, recebiam e se uniam em direção aos mesmos objetivos, sem que, com isso, esquecessem a singularidade do outro. Eram elas participantes do VER-SUS, tal qual eu fui. Nós estávamos ligados ao mesmo centro, não importando a forma com que nos juntamos àquilo ou como cada um perseguiria esse mesmo objetivo. Importava a rede estabelecida, com suas ramificações móveis e prontas para se reorganizarem, se necessário.
Como prosseguir agora? Eis a questão que se impõe e instiga um esclarecer que revele caminhos complexos e um horizonte amplo e resplandecente.
As preocupações são inúmeras nesse momento. Onde está a pluralidade, quando se quer tomar apenas uma forma de funcionamento como a ideal? Onde está o poder de escolha, a autonomia, a liberdade? A resposta que me vem agora é de que se pode buscar isso tudo nesse sistema, no SUS, que foi construído com diretrizes que não pretendem a exclusão de ninguém e, mesmo tendo princípios que, por si só, bastariam para a construção de um trabalho que respeite a dignidade de cada ser humano, ele é aberto para o novo, para a construção de modos de funcionamento ainda não previstos.
Nós, versusianos, como pessoas que passaram por uma gratificante experiência de integralização de conhecimentos e entendimento ético e complexo do ser humano, não somos mais inspirados por ideias ilusórias, como Sancho, personagem de Miguel de Cervantes, pois a ganância e o acumulo de riquezas são apenas o maior exemplo do individualismo da era contemporânea, que tanto arrasa e complica a convivência social igualitária. Lutamos por algo que diga respeito ao bem-estar total, lutamos a favor de algo universal que transcenda a lógica posta. Tampouco somos acomodados. Abdicar de parte de nossas férias para mergulhar de cabeça na realidade do SUS, presenciar suas potencialidades, questionar seus problemas e propor soluções são atribuições totalmente desafiadoras, que exigem um distanciamento das informações unilaterais midiatizadas e exigem uma caminhada que pode e deve ser permanente, pois a educação continuada é uma arma muito poderosa contra a fadiga, a frustração e ainda nos fortalece para que não deixemos a alienação nos engolir.
Tememos e amamos – somos todos humanos, grãos de areia no mundo, partículas subatômicas no universo. E como é bom ter consciência disso.  Como é bom saber que fazemos parte de algo maior, saber que não é na busca por riquezas, visando elevar uma pequenice solitária, mas sim em monumentos compostos de conquistas em conjunto que atingiremos uma satisfação, o sentimento de que nossa passagem por essas terras valeu a pena, foi gratificante a um e a todos.
Nenhum homem ou mulher é uma ilha – somos um arquipélago.


Gabriel S. C. Bernardi