sexta-feira, 29 de junho de 2012

Uma velha dica




Um pedaço de papel em branco
Quando só um pedaço de papel
Em branco
Só continuará
A quem do alto de lado de onde estiver apenas olhar
Trabalho tedioso da retina e companhia

Decepção solitária da imaginação extraordinária
Desperdiçada
Como aqueles velhinhos nas praças
De tênis esportivos
Crendo que viverão mais tempo
Que tempo 

Seguindo palavras d'outros doutores
Dos reis da Ciência
Dizendo como se comportar
Como se virar na 3° idade
Ou virar a cara para ela
Dizendo sem falar que se despeçam de sua prole
Calcem os novos sapatos sobre a terra
Retardando ad absurdum o momento em que ela se SobrePõe

Porque o sentido que lhes dão é o da prolongação
Estender o papel em branco sem nunca preenchê-lo
OU pintá-lo dobrá-lo amassá-lo às vezes claro

E - bom - se não foi você quem o significou
E por aqui continua
Alguém o fez em seu lugar
Que você não leia nada do que escrevo
Ou do que qualquer um já ousou escrever
Se não souber desobedecer

Pedaço de papel em branco e de todas as cores.


Gabriel Bernardi

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mar & Cia.


correndo contra um tempo que não existe
perguntando se é necessária a pressa
quando nessa cidade pouco se ouve de triste
corro entre os flashes dos bares, das festas

sei que eles têm urgência de choro
bebem e se alegram quando há dança
nas olheiras, o pedido de socorro
de um corpo que não descansa

não sou muito diferente
assim como eles não são todos iguais
Eu, Eles, às vezes somos Nós

adivinho um fio à minha frente
algo que tinha por ser nada de mais
o elo que ata todos esses nós

navegar a favor do vento que não cessa
a melhor forma de seguir com a vela em riste
numa nau de cores brilhantes em cada peça
quando nessa cidade pouco se ouve de triste


Gabriel Bernardi

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma grande viagem


já se passaram horas em que passeio
sem lar, sem ar,
sem rumo e sem freio

o que tenho são umas malas
dispostas no hall de entrada
de uma das minhas tantas salas

porque,
apesar de não ter casa,
tenho inúmeras salas
por onde ando em sonhos

já se passaram horas
sem que eu diga nada,
retido no interior de mim,
evitando cada parada

o que passa pela janela
lembra o que se foi dela
pequena, frágil e ainda bela

porque, apesar de não mais existir,
será sempre aquela casa
onde pequeno nasci


Gabriel Bernardi

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Três momentos


I

lá fora está a festa,
aqui dentro,
a solidão infesta

II

na tela uma cicatriz
risca a alma de Ex-tela
no retrato que nunca fiz

III

entre amores e dores
seremos sempre
amadores



Gabriel Bernardi


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Lar

as paredes em silêncio
dizem mais do que se espera:
de suas pedras retornam ecos
imagens limpas de quem eu era


Gabriel Bernardi