quarta-feira, 29 de agosto de 2012

À deriva

Na inércia dos meus pensamentos
Eu às vezes penso poder me afogar.

Fulgura o sol vermelho
Quente vem e queima e causa todo o amor;
Conserva assim em rubro esse meu torpor.

Conversei com Maria que disse do dia
De um azul do céu e dum avião...
 


"Quem sabe um dia ainda
Fale-me sem pressa,
Numa fala linda,
Do que lhe interessa
Numa prosa boa
Sem estripulia
Mesmo sendo à toa".

 

Respondi foi isso, pois sem compromisso
É como vou fingindo
Um despreocupar.

Se um andar de ir indo,
Não for o mais lindo, me perdi e findo.

Sem nenhum lamento
Eu às vezes penso em me deixar boiar.



Gabriel S. C. Bernardi

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Leve

a vida não precisa ser tão dura, tão pesada
tem vezes que mesmo as coisas mais difíceis
as que pesam toneladas
poderiam descansar de sua própria massa
seria como amarrar balões em volta delas
e o que é leve
neste enlevo
as levaria
                                         
                                     
                                       Gabriel Bernardi



sábado, 18 de agosto de 2012

Fragmento de uma história qualquer

[...] Há uma pedra dentro do lago.

Toda a vez que se quer sair dele,
procura-se a tal pedra,
sobe-se na rocha limosa,
e o corpo emerge à superfície
de terra e grama molhada.

Acontece de as pedras tenderem a rolar.

Foi de tanto alguém pisar,
ignorar e tomar por óbvia
a posição estática daquela,
que servia como base aos corpos,
que um dia o mineral se deslocou,
partindo em busca de outras águas
sem pés descuidados [...].


Gabriel S. C. Bernardi

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Fênix

em fogo cíclico
sem início ou fim dados
dado que assim estávamos
alimentados pela própria natureza
do nosso calor

nós, nus, vimos
que nada é tão extremo
que não tenha um fim

do fogo ao pó
do pó ao nada
depois das cinzas
você voltava
em chamas e alada


Gabriel Bernardi



quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cem horas

Prenda-me,
mas se te chamares Noite
e tiveres unhas negras
para cravar em minhas costas.

Tu que és Tarde,
contigo terei momentos a sós,
sós com as árvores,
os pássaros, as calçadas e só.

De que adiantam as horas,
se quando a Música me alcança,
tudo o mais se apaga
em ritmos de lembrança?

Sinto muito, senhoras,
por não amá-las divididas.
Pois todas as suas faces,
encontro numa só Vida.

Gabriel S. C. Bernardi



domingo, 12 de agosto de 2012

O preso do preço

Mães solares sós em seus lares.
Entre santos e plantas,
Cultivam seu ninho.

Pássaro canário: canalha e salafrário.
Enche o bico, passarinho,
Com alpiste cor d'ouro.

Bandido ou corrupto:
Iguais, mas diferentes:
Um usa a touca, o outro, o púlpito.

Presos ilesos de pelo em cabeça.
Têm quem os ame e chore por eles.
Os bandidos reais contam dólares

Em seus ternos de penas de passarinho.


Gabriel S. C. Bernardi

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Verão -- e o que não se viu


Quando me deparo
-- Um não acaso, um caso raro;
Sei que livremente
A vida segue para essa gente --

Sobre a solidão e as dores do verão,
-- Entre hastes e alicates,
Dilacera-se o coração --

-- Três foram as vezes a me enganar;
insurgem, póstumas, quatro verdades --
No quarto de ninar:

Há de ser a lembrança que penetra o coração.
-- Imagens sobrepostas e ajuntadas
Destinadas a serem cinzas
Numa próxima estação. --


Gabriel S. C. Bernardi

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Rindo sós à noite - nós: a noite e eu

Só            Se           Seu           da        Par       Ter
Sobra        Dobra,      Véu:         De        co.       nura
Sombra.    Tomba.     A lâmpa    Lume    Breu,    E frio.



                                                         Gabriel Bernardi