terça-feira, 23 de abril de 2013

Trinômio

A solidão pode torná-lo um bastião frente aos outros; dois nunca são iguais, mas, em sincronia, são como pernas a locomover um corpo ao seu Norte; três formam um tripé, e, como um bom tripé, o equilíbrio só é atingido se todas as partes se comunicam num mesmo ponto.


Gabriel Bernardi




sexta-feira, 12 de abril de 2013

Autoria

Vi que faltava um ponto, mas não quis dar bola.
Não sei se a desatenção o alimentou, mas este
sinal que fugiu do meio do meu texto
quis atrapalhar todo o transcorrer do enredo.

Um pobre ponto, no final das contas.
O que seria dele se não fossem as palavras?
Sua ausência se faz presente sem que a escrita
deixe de existir. Além disso, eu sou o autor aqui.


                                               Gabriel Bernardi



terça-feira, 9 de abril de 2013

Scribo ergo sum

Escrever para quê?
Para reprimir um impulso,
Para impelir uma ação,
Para cortar os pulsos
ou alegrar um coração.

Escrevemos por quê?
Porque assim não se é só,
Porque a palavra faz par,
Porque se teme virar pó
sem legar ao mundo um altar.

Escreverias com o quê?
Com as dores do mundo,
Com amores profundos,
Com a vontade de falar
não deixando de calar.

Escrevo um pouco pelos quais
outro tanto para ninguém.
Faço isso com os reais
sentimentos vindos de além.
Por outros motivos, faço isso também.


                                    Gabriel Bernardi



sábado, 6 de abril de 2013

Música outonal

Terra em sentidos
para onde farejar um odor,
um ar, hortelã e quem sabe
- o vácuo! Estar perdido
é saber que não se sabe.
Olhando à frente e seguindo a luz
poderia dizer que é um farol.
No andar do desorientado
poderia ser qualquer coisa,
a luz no fim do túnel,
a morte... Fosse ou não foice,
o importante é o gosto de sentir,
de se movimentar.
Não há grilhões de sensatez
ou o medo da estupidez.
Flui-se apenas.
Evaporar, chegar aos céus, voltar à terra:
viver o que se pode
e sonhar alguns acordes.


                                    Gabriel Bernardi



quinta-feira, 4 de abril de 2013

Partida

Ela já sabia que eles todos iriam embora logo, logo.
Mesmo assim adormeceu.
Quando lhe acordei, estava surpresa e havia espanto em seu rosto.
Os sonhos sempre partem ao abrir dos olhos.


                                                                          Gabriel Bernardi



quarta-feira, 3 de abril de 2013

Se gira o sol

Mostra-te cria ativa, criatura!
O que mais poderia esperar
a essa altura dos teus atos
nunca desatados, jamais realizados?

A espera que foi linda esfera
com figuras brilhantes no interior
não passa de ex-fera, de uma
besta que devorou meu coração.

Li que do mal será queimada a
semente, liquidei ilusões e
mantenho a cabeça à frente

percebendo que quanta idade e
quantidade não mudam nada.
Muda só é ser, se gira o sol.


Gabriel S. C. Bernardi