O celular despertou e me
impulsionei de modo que me levantasse rápido para descer e tomar o café da
manhã... “Descer e tomar o café da manhã”? Eu não estava mais no retiro onde
passei treze dias das minhas férias, mas sim no meu quarto, dentro de um
apartamento de um andar apenas e sem nenhum compromisso aparente me impelindo a
correr. Fiquei ali. As imagens que já se apagavam na mente eram de eventos com
pessoas que conheci há poucos dias, pessoas que compartilhavam, recebiam e se
uniam em direção aos mesmos objetivos, sem que, com isso, esquecessem a singularidade
do outro. Eram elas participantes do VER-SUS, tal qual eu fui. Nós estávamos
ligados ao mesmo centro, não importando a forma com que nos juntamos àquilo ou
como cada um perseguiria esse mesmo objetivo. Importava a rede estabelecida,
com suas ramificações móveis e prontas para se reorganizarem, se necessário.
Como prosseguir agora? Eis a
questão que se impõe e instiga um esclarecer que revele caminhos complexos e um
horizonte amplo e resplandecente.
As preocupações são inúmeras
nesse momento. Onde está a pluralidade, quando se quer tomar apenas uma forma
de funcionamento como a ideal? Onde está o poder de escolha, a autonomia, a
liberdade? A resposta que me vem agora é de que se pode buscar isso tudo nesse
sistema, no SUS, que foi construído com diretrizes que não pretendem a exclusão
de ninguém e, mesmo tendo princípios que, por si só, bastariam para a
construção de um trabalho que respeite a dignidade de cada ser humano, ele é
aberto para o novo, para a construção de modos de funcionamento ainda não
previstos.
Nós, versusianos, como pessoas
que passaram por uma gratificante experiência de integralização de
conhecimentos e entendimento ético e complexo do ser humano, não somos mais
inspirados por ideias ilusórias, como Sancho, personagem de Miguel de
Cervantes, pois a ganância e o acumulo de riquezas são apenas o maior exemplo
do individualismo da era contemporânea, que tanto arrasa e complica a
convivência social igualitária. Lutamos por algo que diga respeito ao bem-estar
total, lutamos a favor de algo universal que transcenda a lógica posta.
Tampouco somos acomodados. Abdicar de parte de nossas férias para mergulhar de
cabeça na realidade do SUS, presenciar suas potencialidades, questionar seus
problemas e propor soluções são atribuições totalmente desafiadoras, que exigem
um distanciamento das informações unilaterais midiatizadas e exigem uma
caminhada que pode e deve ser permanente, pois a educação continuada é uma arma
muito poderosa contra a fadiga, a frustração e ainda nos fortalece para que não
deixemos a alienação nos engolir.
Tememos e amamos – somos todos
humanos, grãos de areia no mundo, partículas subatômicas no universo. E como é
bom ter consciência disso. Como é bom
saber que fazemos parte de algo maior, saber que não é na busca por riquezas,
visando elevar uma pequenice solitária, mas sim em monumentos compostos de
conquistas em conjunto que atingiremos uma satisfação, o sentimento de que
nossa passagem por essas terras valeu a pena, foi gratificante a um e a todos.
Nenhum homem ou mulher é uma
ilha – somos um arquipélago.
Gabriel S. C. Bernardi
Nenhum comentário:
Postar um comentário