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domingo, 5 de maio de 2013

Meio desligado

A pressão da prensa que
nos apressa, via de regra,
a imprensa alegra.

O custo subversivo do susto
não percebido ao vivo
mas a cores subconscientes
cobra a fixação humana
no televisor de tela plana.

A parte do fato
dado como obra inteira:
eis a arte de usar os dados
por pura conveniência,
dada nossa atitude de
completa complacência.

Um ato e uma virtude:
a atitude da vida asceta,
mover-se e comover-se,
abster-se dos grilhões
das culpas e dos perdões.

Livre será toda grande verdade
que a ninguém mais servirá:
brota a vontade de questionar.


Gabriel Bernardi

terça-feira, 23 de abril de 2013

Trinômio

A solidão pode torná-lo um bastião frente aos outros; dois nunca são iguais, mas, em sincronia, são como pernas a locomover um corpo ao seu Norte; três formam um tripé, e, como um bom tripé, o equilíbrio só é atingido se todas as partes se comunicam num mesmo ponto.


Gabriel Bernardi




sexta-feira, 12 de abril de 2013

Autoria

Vi que faltava um ponto, mas não quis dar bola.
Não sei se a desatenção o alimentou, mas este
sinal que fugiu do meio do meu texto
quis atrapalhar todo o transcorrer do enredo.

Um pobre ponto, no final das contas.
O que seria dele se não fossem as palavras?
Sua ausência se faz presente sem que a escrita
deixe de existir. Além disso, eu sou o autor aqui.


                                               Gabriel Bernardi



terça-feira, 9 de abril de 2013

Scribo ergo sum

Escrever para quê?
Para reprimir um impulso,
Para impelir uma ação,
Para cortar os pulsos
ou alegrar um coração.

Escrevemos por quê?
Porque assim não se é só,
Porque a palavra faz par,
Porque se teme virar pó
sem legar ao mundo um altar.

Escreverias com o quê?
Com as dores do mundo,
Com amores profundos,
Com a vontade de falar
não deixando de calar.

Escrevo um pouco pelos quais
outro tanto para ninguém.
Faço isso com os reais
sentimentos vindos de além.
Por outros motivos, faço isso também.


                                    Gabriel Bernardi



sábado, 6 de abril de 2013

Música outonal

Terra em sentidos
para onde farejar um odor,
um ar, hortelã e quem sabe
- o vácuo! Estar perdido
é saber que não se sabe.
Olhando à frente e seguindo a luz
poderia dizer que é um farol.
No andar do desorientado
poderia ser qualquer coisa,
a luz no fim do túnel,
a morte... Fosse ou não foice,
o importante é o gosto de sentir,
de se movimentar.
Não há grilhões de sensatez
ou o medo da estupidez.
Flui-se apenas.
Evaporar, chegar aos céus, voltar à terra:
viver o que se pode
e sonhar alguns acordes.


                                    Gabriel Bernardi



quinta-feira, 4 de abril de 2013

Partida

Ela já sabia que eles todos iriam embora logo, logo.
Mesmo assim adormeceu.
Quando lhe acordei, estava surpresa e havia espanto em seu rosto.
Os sonhos sempre partem ao abrir dos olhos.


                                                                          Gabriel Bernardi



quarta-feira, 3 de abril de 2013

Se gira o sol

Mostra-te cria ativa, criatura!
O que mais poderia esperar
a essa altura dos teus atos
nunca desatados, jamais realizados?

A espera que foi linda esfera
com figuras brilhantes no interior
não passa de ex-fera, de uma
besta que devorou meu coração.

Li que do mal será queimada a
semente, liquidei ilusões e
mantenho a cabeça à frente

percebendo que quanta idade e
quantidade não mudam nada.
Muda só é ser, se gira o sol.


Gabriel S. C. Bernardi

terça-feira, 26 de março de 2013

Céu

Um tanto perplexo com o pouco
de energia que tu não desprendes
desse belo corpo para chegares
até mim, tendo eu feito
loucos caminhos até você.

O que digo? Não era para ser isso
um deleite, um desfrute, uma excitação?

E foi, e algo que foi já não o é.
Cansei de ficar só parado só.

Já lá se foram palavras, filmes, carinhos.
Já comigo ficam poesias, chocolates, beijos
nunca dados, dados não registrados.

Mar, mar, mar:
que tanto tenho repetido essa mesma palavra?
Pareço um desses pássaros falantes
desses que poderiam voar
não fossem as gaiolas as que adentraram.
É bonito um bichinho de estimação...
É deveras bonito, decerto, a prisão...

Mas, mas, mas:
a gaiola esteve sempre aberta
eu que esperei quem estava lá fora
se encantar pelo meu falatório.
Palavras cíclicas não me tiraram daqui
seu olhar rubi é a pedra a pesar meu coração.

Cansei, cansei e voei, e agora não será
tão fácil voltar, pois me falta querer.

O interessante disso tudo foi um vislumbre
um entreolhar para além do presente
uma vontade que cresceu dentro de mim
um querer aquém dos presentes.

Minha realidade virá narrada ao vento
a brisa no céu não me trás lamento
não sinto o mar, mas o vejo bem lá embaixo
não fixo o olhar, sigo e sossego o meu facho.

Esse vislumbre do que nunca vi, esse
amor pelo que nem sei
- tudo humano, demasido humano,
- voando sobre humanos busco outros como eu

busco quem bata asas num ritmo tão natural
que ao nos encontrarmos será como se já
ali estivéssemos libertos de todo o mal.


Gabriel S. C. Bernardi



segunda-feira, 25 de março de 2013

Concha

É tudo pequeno
se ficamos fechados de medo
de entrar com as ondas do mar

É tudo pequeno
o mundo, teu enredo
a arte breve de se calar

É tudo pequeno
difícil e segredo
- mas basta um olhar.


Gabriel S. C. Bernardi


quarta-feira, 20 de março de 2013

Eterno retorno

Acordei assim meio confuso
sem saber se havia mudado o fuso
do meu horário
ou se o fuso era o corpo de uma mulher
espetando a agulhadas o imaginário
delírio de se ter a quem se quer.

Meu corpo estava descansado
a mente não
Num momento de lucidez pensei
e assim era o meu estado:
suava frio pelas mãos
Foi dando voltas e voltas que enfim voltei.


Gabriel S. C. Bernardi



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Orionis



Desenhados no meu corpo
três pontos sequenciais
refletem-se em teus mares.



                                                                       Gabriel S. C. Bernardi




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Tribunal de causas interiores


O olho brilhante de lágrima
culpa-me pelo crime que fiz
e o martelo batendo no peito
é quem me condena

espero desse juiz
a leveza de uma pena.

                                                                                      
                                                                                 Gabriel S. C. Bernardi



domingo, 27 de janeiro de 2013

Sem um coração mar é breu

Passa
a pasta
no dorso

Pula
se joga
num sopro

Sente
a onda
no corpo

Surge
de volta
no topo

Molha
com água
o rosto

Maré
céu solar
um fosso

Mar é
seu olhar
seu rosto


Gabriel S. C. Bernardi

sábado, 19 de janeiro de 2013

Cena na biblioteca

- Ainda bem que o pensamento não tem som!
Ouço um resmungo em resposta.
- Perdão. Pensei alto.


                                                                      Gabriel S. C. Bernardi



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O autor de alturas

Prédios se erguem logo após o descampado
De longe via meia dúzia de cômodos acesos
Com meias luzes que observo de todo calado

À esquerda as ondas vão ao topo
Por sobre as costas desse corpo

Ou por sobre a costa litorânea e fria?
Sinto na mão uma gota breve de epifania

O sono que já é tanto
Sugere ser a realidade
A base de todo o encanto



Outro pingo na face, outro na orelha
Quando findo uma fase, outra se esguelha



As luzes são confusas e a torrente
Tentando imitar difusa o invisível
É o manto a limitar o consciente

Será que o edifício continua ali?
Alguém me observa e me espera lá?
Já vi que durmo... Algum dia vivi?

Na hora em que o claro serpenteia o escuro
Vejo vasto o espaço por entre os tons

No entanto não é no alto prédio meu futuro
Mas no que tudo faço com meus próprios dons.



Gabriel S. C. Bernardi



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

CDL

Perceba: do limpo e casto sabão
Há de vir o sujo caos da explosão.

                                                Gabriel S. C. Bernardi


domingo, 9 de dezembro de 2012

Fita de Möbius

Desconfio desses que buscam uma tal felicidade plena.
Desprezo os que morrem em tristes melancolias.
Ser um bobo da corte: a cegueira dos que temem o açoite.
Ser orador do próprio túmulo: fuga e baixeza em acúmulo.


Do que preciso é de uma alegria triste, de um sorriso que sabe o peso dos músculos que lhe erguem e, por isso mesmo, se expressa com tamanha beleza, que o esforço é justificado em cada fibra vitoriosa - uma união de força e gozo tácitos.

Quem sabe uma triste alegria, algo meio nostálgico... Quem sabe também se deseje isso?
A dicotomia - como já deve de ser sabido entre nós - só existe virtualmente.
O que pode ser real sem uma antítese?
O que pode ser iluminado sem produzir sombras?


São constituintes de um mesmo todo.
Perceba, amor: aquele está contido naquele.
O infeliz está dentro do feliz.
"Se fora está a festa, dentro uma solidão in-festa."
Somos as superfícies que sustentam esse "dentro" e "fora".


Gabriel S. C. Bernardi


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Adiante de si

Quantas árvores estão à frente,
Atravancando os passos do presente?

Quantas transposições a superar,
Desde o balanço até o altar?

Se essas perguntas me fossem
Feitas,
Seria um médico prescrevendo
Receitas.

"Para sua alma de olhos falhos:
Lentes para enxergar os galhos".

"Para o sedentarismo intelectual:
Livros - que melhores degraus?".


Gabriel S. C. Bernardi


sábado, 24 de novembro de 2012

Momento

Quando lhe disser tudo o que sinto,
Pelo tom de voz saberás: não minto.
Quando nada digo e lhe admiro,
Entendas: é pelo olhar que me refiro.

"A quê?" - perguntas.
"Para que perguntas?"


                                                                                          Gabriel S. C. Bernardi



domingo, 18 de novembro de 2012

A noite ser

Noite como contradição:
Uma deliciosa companhia
E uma tremenda solidão.


                                                             Gabriel S. C. Bernardi