Eros uma vez
uma poesia de amor:
Respirava com tanta força,
que inspirando sombras e dores,
mandava transformados no ar,
suspiros de pétalas-flores.
Disse-me numa noite
que se casaria com o luar,
e no todo-sempre
encontrou seu lugar.
Gabriel Bernardi
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
Fantasia
irracionais centenas
todo o peso do mar
+ Tróia e + Helena
quilos de sentimentos
numa imensa superfície
moldando minha face
nas múltiplas de Ulisses
quem me dera ser como Alice
então diminuir e ir além da toca
onde o sonho se verbaliza
em derme, em corpo, onde ele toca
Gabriel Bernardi
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Cara ou coroa
Sem coroa de ouro,
bronzeio minha cara
no sol vespertino.
Sigo um caminho e outro
ziguezagueando por travessas,
sou mesmo o rei louco
do meu destino às avessas.
Gabriel Bernardi
bronzeio minha cara
no sol vespertino.
Sigo um caminho e outro
ziguezagueando por travessas,
sou mesmo o rei louco
do meu destino às avessas.
Gabriel Bernardi
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Por, opor, compor
compõe-se
o opositor
de tudo
o que não for
se mesmo a flor
guarda espinho
e expõe a cor
seja como for
vai opositor
compõe
caminhos
tortos de torturas
de dor-amor
Gabriel Bernardi
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
sábado, 2 de novembro de 2013
domingo, 20 de outubro de 2013
Café passado
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Vento
A imagem de fora
por dentro se deforma,
e quem se mostra uma fera
é pálido e delicado
feito cera de vela.
Somos o vento que sopra
em nosso barco,
em nossa vela.
Gabriel Bernardi
por dentro se deforma,
e quem se mostra uma fera
é pálido e delicado
feito cera de vela.
Somos o vento que sopra
em nosso barco,
em nossa vela.
Gabriel Bernardi
domingo, 6 de outubro de 2013
Moinho
Um motor vital faz as águas correrem.
Enquanto uns pensam
que os caminhos se separam,
outros tampouco desconfiam
que eles deixem de andar lado a lado,
afunilando em destinos comuns.
E nessa questão comparativa
somos todos idênticos
em sermos distintos.
Enquanto uns pensam
que os caminhos se separam,
outros tampouco desconfiam
que eles deixem de andar lado a lado,
afunilando em destinos comuns.
E nessa questão comparativa
somos todos idênticos
em sermos distintos.
Gabriel Bernardi
sábado, 21 de setembro de 2013
Livro sem nome
Busca qualquer coisa
que mate seu tédio.
Pega da estante
um livro qualquer.
que mate seu tédio.
Pega da estante
um livro qualquer.
Obra de poesia,
um novo remédio.
Ah! Tudo de novo:
o livro, outro estorvo.
Quem supõe a menina,
se incomoda com o clima
de chuva e distância.
Reconhece incerto
um nome por cima
sem te fazer perto.
Gabriel Bernardi
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
Dispar de si
Quanto mais alguém vive de aparências
- ao que parece -,
mais dispar de si
se fica.
- ao que parece -,
mais dispar de si
se fica.
A parceria entre eu e si
se dissolve
e em ti
nada mais se envolve.
Gabriel Bernardi
terça-feira, 10 de setembro de 2013
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Cela
"Se a porta da cadeia
esteve sempre aberta,
terá sido o medo ou quem sabe
o conforto que não o deixou ir?"
Cogita o carcereiro
sentado em sua cela.
Gabriel Bernardi
domingo, 18 de agosto de 2013
A corda
Sou vítima de uma fome
de uma vontade que nasce
cresce e quer me engolir
admito o medo, pois agora
mas só por hora
sinto a prisão de amarras
e por aqui vou desviando
da fome e suas garras
Sinto outro desejo
também daqui de dentro
gêmeo da fome e diferente
querendo seguir em frente
ajudando a desfazer o nó
a mover minhas pernas
e buscar outros ares sem
esse gosto parente do pó
Se um não matar o outro
estou feliz
quem nunca viveu a vida
sem tombo ou cicatriz?
de uma vontade que nasce
cresce e quer me engolir
admito o medo, pois agora
mas só por hora
sinto a prisão de amarras
e por aqui vou desviando
da fome e suas garras
Sinto outro desejo
também daqui de dentro
gêmeo da fome e diferente
querendo seguir em frente
ajudando a desfazer o nó
a mover minhas pernas
e buscar outros ares sem
esse gosto parente do pó
Se um não matar o outro
estou feliz
quem nunca viveu a vida
sem tombo ou cicatriz?
Gabriel Bernardi
sábado, 10 de agosto de 2013
A cada dia chuvoso, uma árvore renasce
os botões de rosa estão florescendo
em árvores que ajudei a regar
em árvores que ajudei a regar
mesmo quando não estou por perto
as rosas continuam a brotar
as rosas continuam a brotar
enquanto uma planta cresce
há tanto mais a se admirar
em outras primaveras ou nas
plantas flutuantes do mar
em outras primaveras ou nas
plantas flutuantes do mar
cavo mais fundo em meu eu
para plantar e renascer o mundo
para plantar e renascer o mundo
jogo as sementes à sorte do breu
esperando por um pouco de tudo
esperando por um pouco de tudo
o peito que aperta de vez em quando
e só a chuva é capaz de envolver
noutros momentos quer abrir de vez
e admitir que sempre esteve amando
e admitir que sempre esteve amando
o problema é que nunca esteve a mando
de ninguém a não ser de seu desejo
como a árvore só verdeja em sua terra
da raiz do seu solo virá seu ensejo
Gabriel Bernardi
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Crepúsculo dos ídolos
Meus astros caíram da redoma do ideal. Foi numa noite muito fria, nas alturas da escada que construí para alcançá-los e que já ultrapassa suas casas há muitos metros. Era eu quem então assumia o lugar no topo. Ali não era tão confortável quanto imaginei. A qualquer vacilo poderia cair. E cairia como um deles, não pertencendo mais aos lugares de onde vim. É preciso de um pouco mais de força, de um certo equilíbrio.
Aqui a gravidade é outra e a gravidade como as coisas são encaradas também. Aqui se pode ser pai, professor, psicólogo, irmão, amigo e muito mais. Faz-se compreensível a dificuldade pela qual os que me antecederam passaram - aqui, mas sempre lá, sempre adiante... Falta-me uma casa por essas bandas, assim como faltam outros passos por esses altos terrenos. Será interessante, isso eu já posso dizer. Resisti no início, mas acredito que será interessante.
E mesmo aqui onde me encontro, não pretendo esquecer os degraus por onde vim. Ainda vou descê-los mais de uma vez e a minha casa será onde eu estiver. Nesse processo o que aproveitei mesmo foi o desenvolver da minha capacidade de criar, de transpor o ideal para o plano do real e ainda poder sonhar, criando objetos fantásticos no palco dos sonhos, dos olhos que se fecham, voltam-se para dentro, descansam e retornam para encarar tudo a sua volta com ânimo renovado - e quantos olhos temos quando estamos juntos!
A felicidade de desmistificar uma estrela é entender do que ela é feita e como ela foi parar ali, para que disso se possa criar uma constelação própria, apropriando-se da vida em toda sua potencialidade.
Gabriel Bernardi
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Plácido
Tenho tanto a dizer que acho melhor calar
Num pingo de silêncio ou na gota do olhar
Tanta água qual um oceano que até passa
A vontade de rimar
Gabriel Bernardi
Num pingo de silêncio ou na gota do olhar
Tanta água qual um oceano que até passa
A vontade de rimar
Gabriel Bernardi
segunda-feira, 8 de julho de 2013
O estado do Estado
Não costumo escrever sobre política, mas meu senso crítico e a indignação que cresce em mim não deixam que eu me cale sobre o atual estado das coisas. O Estado não me representa. Ainda tenho um extenso caminho a trilhar para conhecer melhor a política atual e o que levou o Brasil ao que dele se faz hoje, mas percebo que como está não dá. Informando-me sobre as ações de Dilma após os protestos populares que encheram as ruas do país com manifestações - a princípio apartidárias -, percebi que sua linha de atuação não está tão voltada assim ao interesse do povo, mas ao seu próprio e ao de seu partido de se manterem no poder. Não sou contra a esquerda, pelo contrário. Só não acho que o PT a possa sustentar como diz que faz. E emprego a mesma desconfiança aos demais partidos. Disputam o número de ministérios onde afincaram suas bandeiras partidárias, buscando acordos por interesses próprios. Estando no poder, querem manter-se nele ou buscar ainda mais. Estando um pouco de lado, engalfinham-se e tentam puxar o mais que podem o tapete dos que lá se encontram.
Não há horizonte. Há uma torre de marfim (verticalidade pura) que nada tem a ver com os cidadãos comuns, a não ser que são esses os que sustentam com sua mão de obra os pilares da torre. Prova disso são os manifestos. Abalaram a estrutura. Fizeram políticos se moverem. Mas seus movimentos por enquanto são fachadas, apenas refrescam a sede da população. Um líquido preto e docinho (e altamente publicitário) que cobrará seu preço no futuro com os problemas de saúde da sociedade.
O Estado se foca em manter o poder: poder sobre corpos, sobre as ciências, sobre as tecnologias, financiando experts a ditar as verdades que lhes favorecem. E cá estamos, em véspera de reeleições de políticos que nada mais farão do que tentar se manter ou galgar um lugar no poder. Duas alternativas parecem viáveis momentaneamente: buscar conhecer os candidatos que melhor nos representarão como povo - e aqui falando sobre interesses que buscam a igualdade e não meras disputas de classes - e não deixar o movimento e o significado caracterizado pelo bordão "vem pra rua" morrerem nas coletividades e em cada um.
Gabriel Bernardi
sexta-feira, 5 de julho de 2013
Devir barro
Sinto-me mais próximo da tão negligenciada aula de artes, do que de uma olimpíada de matemática. Não quero ser como uma criança inteligente que, por ter uma boa visão lógica e espacial das coisas, aprendeu a juntar peças de lego de diversas maneiras possíveis. Há certo limite nos encaixes que me incomoda. Sua prisão se encontra na razão e na chamada probabilidade. As peças ainda são feitas de um plástico duro que mal representam o petróleo de onde se originam. Os buracos onde suas elevações devem se encaixar precisam ser do tamanho exato, caso contrário toda a estrutura fica meio bamba, meio insegura. Estou mais inclinado ao barro, por mais que os puritanos lhe acusem de sujo ou arcaico. O barro é um material maleável, junção de água e terra, que bem se envolve com outras partes desses dois elementos tão presentes na natureza. Mas veja bem: não falo de encaixes perfeitos, pelo contrário: suas formas unidas são sempre singulares. Cada um prossegue como se moldasse sua história tal qual um oleiro molda as curvas de sua arte, deixando uma marca indelével e legítima do seu eu, dos seus afetos e do seu corpo no mundo. Por essas e outras, quero deixar meu barro bem volúvel, mesmo quando belas estatuetas possam surgir; o quero sempre livre, solto, sem ser estático - estatístico! -, para que não se quebre ao encontrar paredes, mas sim se espalhe por sua superfície até achar algumas fissuras onde penetre desfazendo-as, mas não sem antes amolecer um pouco o muro. Uma nova escultura, por fim, surgiria dos encontros, sem nunca acabar por completo o processo - por não ser concreto ou plástico, metal ou vidro: por ser barro e vir a ser o que for.
Gabriel Bernardi
quarta-feira, 12 de junho de 2013
Céu engarrafado
NU VEM a água:
GUARDA-se em CHUVA
e VEM TOda cinza
transPARECER o solo.
Mal começava a verter o líquido celeste,
e já o vento tirava de mim um guarda-chuva a bailar,
fazendo-o parecer nuvem negra flutuando no caos.
Gabriel Bernardi
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Verde vida
Nasceu como uma laranja de umbigo
E partiu como uma laranja do céu
Criou-se em meio à natureza
Tendo as folhas como véu
E sem apreciar certezas
Fez da vida um dossel.
E partiu como uma laranja do céu
Criou-se em meio à natureza
Tendo as folhas como véu
E sem apreciar certezas
Fez da vida um dossel.
Gabriel Bernardi
terça-feira, 21 de maio de 2013
domingo, 5 de maio de 2013
Meio desligado

nos apressa, via de regra,
a imprensa alegra.
O custo subversivo do susto
não percebido ao vivo
mas a cores subconscientes
cobra a fixação humana
no televisor de tela plana.
A parte do fato
dado como obra inteira:
eis a arte de usar os dados
por pura conveniência,
dada nossa atitude de
completa complacência.
Um ato e uma virtude:
a atitude da vida asceta,
mover-se e comover-se,
abster-se dos grilhões
das culpas e dos perdões.
Livre será toda grande verdade
que a ninguém mais servirá:
brota a vontade de questionar.
Gabriel Bernardi
terça-feira, 23 de abril de 2013
Trinômio
A solidão pode torná-lo um bastião frente aos outros; dois nunca são iguais, mas, em sincronia, são como pernas a locomover um corpo ao seu Norte; três formam um tripé, e, como um bom tripé, o equilíbrio só é atingido se todas as partes se comunicam num mesmo ponto.
Gabriel Bernardi
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Autoria
Vi que faltava um ponto, mas não quis dar bola.
Não sei se a desatenção o alimentou, mas este
sinal que fugiu do meio do meu texto
quis atrapalhar todo o transcorrer do enredo.
Um pobre ponto, no final das contas.
O que seria dele se não fossem as palavras?
Sua ausência se faz presente sem que a escrita
deixe de existir. Além disso, eu sou o autor aqui.
Gabriel Bernardi
Não sei se a desatenção o alimentou, mas este
sinal que fugiu do meio do meu texto
quis atrapalhar todo o transcorrer do enredo.
Um pobre ponto, no final das contas.
O que seria dele se não fossem as palavras?
Sua ausência se faz presente sem que a escrita
deixe de existir. Além disso, eu sou o autor aqui.
Gabriel Bernardi
terça-feira, 9 de abril de 2013
Scribo ergo sum
Escrever para quê?
Para reprimir um impulso,
Para impelir uma ação,
Para cortar os pulsos
ou alegrar um coração.
Escrevemos por quê?
Porque assim não se é só,
Porque a palavra faz par,
Porque se teme virar pó
sem legar ao mundo um altar.
Escreverias com o quê?
Com as dores do mundo,
Com amores profundos,
Com a vontade de falar
não deixando de calar.
Escrevo um pouco pelos quais
outro tanto para ninguém.
Faço isso com os reais
sentimentos vindos de além.
Por outros motivos, faço isso também.
Gabriel Bernardi
sábado, 6 de abril de 2013
Música outonal
Terra em sentidos
para onde farejar um odor,
um ar, hortelã e quem sabe
- o vácuo! Estar perdido
é saber que não se sabe.
Olhando à frente e seguindo a luz
poderia dizer que é um farol.
No andar do desorientado
poderia ser qualquer coisa,
a luz no fim do túnel,
a morte... Fosse ou não foice,
o importante é o gosto de sentir,
de se movimentar.
Não há grilhões de sensatez
ou o medo da estupidez.
Flui-se apenas.
Evaporar, chegar aos céus, voltar à terra:
viver o que se pode
e sonhar alguns acordes.
Gabriel Bernardi
para onde farejar um odor,
um ar, hortelã e quem sabe
- o vácuo! Estar perdido
é saber que não se sabe.
Olhando à frente e seguindo a luz
poderia dizer que é um farol.
No andar do desorientado
poderia ser qualquer coisa,
a luz no fim do túnel,
a morte... Fosse ou não foice,
o importante é o gosto de sentir,
de se movimentar.
Não há grilhões de sensatez
ou o medo da estupidez.
Flui-se apenas.
Evaporar, chegar aos céus, voltar à terra:
viver o que se pode
e sonhar alguns acordes.
Gabriel Bernardi
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Partida
Ela já sabia que eles todos iriam embora logo, logo.
Mesmo assim adormeceu.
Quando lhe acordei, estava surpresa e havia espanto em seu rosto.
Os sonhos sempre partem ao abrir dos olhos.
Gabriel Bernardi
Mesmo assim adormeceu.
Quando lhe acordei, estava surpresa e havia espanto em seu rosto.
Os sonhos sempre partem ao abrir dos olhos.
Gabriel Bernardi
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Se gira o sol
Mostra-te cria ativa, criatura!
O que mais poderia esperar
a essa altura dos teus atos
nunca desatados, jamais realizados?
A espera que foi linda esfera
com figuras brilhantes no interior
não passa de ex-fera, de uma
besta que devorou meu coração.
Li que do mal será queimada a
semente, liquidei ilusões e
mantenho a cabeça à frente
percebendo que quanta idade e
quantidade não mudam nada.
Muda só é ser, se gira o sol.
Gabriel S. C. Bernardi
O que mais poderia esperar
a essa altura dos teus atos
nunca desatados, jamais realizados?
A espera que foi linda esfera
com figuras brilhantes no interior
não passa de ex-fera, de uma
besta que devorou meu coração.
Li que do mal será queimada a
semente, liquidei ilusões e
mantenho a cabeça à frente
percebendo que quanta idade e
quantidade não mudam nada.
Muda só é ser, se gira o sol.
Gabriel S. C. Bernardi
terça-feira, 26 de março de 2013
Céu

de energia que tu não desprendes
desse belo corpo para chegares
até mim, tendo eu feito
loucos caminhos até você.
O que digo? Não era para ser isso
um deleite, um desfrute, uma excitação?
E foi, e algo que foi já não o é.
Cansei de ficar só parado só.
Já lá se foram palavras, filmes, carinhos.
Já comigo ficam poesias, chocolates, beijos
nunca dados, dados não registrados.
Mar, mar, mar:
que tanto tenho repetido essa mesma palavra?
Pareço um desses pássaros falantes
desses que poderiam voar
não fossem as gaiolas as que adentraram.
É bonito um bichinho de estimação...
É deveras bonito, decerto, a prisão...
Mas, mas, mas:
a gaiola esteve sempre aberta
eu que esperei quem estava lá fora
se encantar pelo meu falatório.
Palavras cíclicas não me tiraram daqui
seu olhar rubi é a pedra a pesar meu coração.
que tanto tenho repetido essa mesma palavra?
Pareço um desses pássaros falantes
desses que poderiam voar
não fossem as gaiolas as que adentraram.
É bonito um bichinho de estimação...
É deveras bonito, decerto, a prisão...
Mas, mas, mas:
a gaiola esteve sempre aberta
eu que esperei quem estava lá fora
se encantar pelo meu falatório.
Palavras cíclicas não me tiraram daqui
seu olhar rubi é a pedra a pesar meu coração.
Cansei, cansei e voei, e agora não será
tão fácil voltar, pois me falta querer.
O interessante disso tudo foi um vislumbre
um entreolhar para além do presente
uma vontade que cresceu dentro de mim
um querer aquém dos presentes.
Minha realidade virá narrada ao vento
a brisa no céu não me trás lamento
não sinto o mar, mas o vejo bem lá embaixo
não fixo o olhar, sigo e sossego o meu facho.
Esse vislumbre do que nunca vi, esse
amor pelo que nem sei
- tudo humano, demasido humano,
- voando sobre humanos busco outros como eu
busco quem bata asas num ritmo tão natural
que ao nos encontrarmos será como se já
ali estivéssemos libertos de todo o mal.
tão fácil voltar, pois me falta querer.
O interessante disso tudo foi um vislumbre
um entreolhar para além do presente
uma vontade que cresceu dentro de mim
um querer aquém dos presentes.
Minha realidade virá narrada ao vento
a brisa no céu não me trás lamento
não sinto o mar, mas o vejo bem lá embaixo
não fixo o olhar, sigo e sossego o meu facho.
Esse vislumbre do que nunca vi, esse
amor pelo que nem sei
- tudo humano, demasido humano,
- voando sobre humanos busco outros como eu
busco quem bata asas num ritmo tão natural
que ao nos encontrarmos será como se já
ali estivéssemos libertos de todo o mal.
Gabriel S. C. Bernardi
segunda-feira, 25 de março de 2013
Concha
É tudo pequeno
se ficamos fechados de medo
de entrar com as ondas do mar
se ficamos fechados de medo
de entrar com as ondas do mar
É tudo pequeno
o mundo, teu enredo
a arte breve de se calar
o mundo, teu enredo
a arte breve de se calar
É tudo pequeno
difícil e segredo
- mas basta um olhar.
difícil e segredo
- mas basta um olhar.
Gabriel S. C. Bernardi
quarta-feira, 20 de março de 2013
Eterno retorno
Acordei assim meio confuso
sem saber se havia mudado o fuso
do meu horário
ou se o fuso era o corpo de uma mulher
espetando a agulhadas o imaginário
delírio de se ter a quem se quer.
Meu corpo estava descansado
a mente não
Num momento de lucidez pensei
e assim era o meu estado:
suava frio pelas mãos
Foi dando voltas e voltas que enfim voltei.
sem saber se havia mudado o fuso
do meu horário
ou se o fuso era o corpo de uma mulher
espetando a agulhadas o imaginário
delírio de se ter a quem se quer.
Meu corpo estava descansado
a mente não
Num momento de lucidez pensei
e assim era o meu estado:
suava frio pelas mãos
Foi dando voltas e voltas que enfim voltei.
Gabriel S. C. Bernardi
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Tribunal de causas interiores
O olho brilhante de lágrima
culpa-me pelo crime que fiz
culpa-me pelo crime que fiz
e o martelo batendo no peito
é quem me condena
espero desse juiz
a leveza de uma pena.
a leveza de uma pena.
Gabriel S. C. Bernardi
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
A função da arte/1
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Me ajuda a olhar!
Eduardo Galeano (O livro dos abraços)
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
O sonho como norte da realidade
O celular despertou e me
impulsionei de modo que me levantasse rápido para descer e tomar o café da
manhã... “Descer e tomar o café da manhã”? Eu não estava mais no retiro onde
passei treze dias das minhas férias, mas sim no meu quarto, dentro de um
apartamento de um andar apenas e sem nenhum compromisso aparente me impelindo a
correr. Fiquei ali. As imagens que já se apagavam na mente eram de eventos com
pessoas que conheci há poucos dias, pessoas que compartilhavam, recebiam e se
uniam em direção aos mesmos objetivos, sem que, com isso, esquecessem a singularidade
do outro. Eram elas participantes do VER-SUS, tal qual eu fui. Nós estávamos
ligados ao mesmo centro, não importando a forma com que nos juntamos àquilo ou
como cada um perseguiria esse mesmo objetivo. Importava a rede estabelecida,
com suas ramificações móveis e prontas para se reorganizarem, se necessário.
Como prosseguir agora? Eis a
questão que se impõe e instiga um esclarecer que revele caminhos complexos e um
horizonte amplo e resplandecente.
As preocupações são inúmeras
nesse momento. Onde está a pluralidade, quando se quer tomar apenas uma forma
de funcionamento como a ideal? Onde está o poder de escolha, a autonomia, a
liberdade? A resposta que me vem agora é de que se pode buscar isso tudo nesse
sistema, no SUS, que foi construído com diretrizes que não pretendem a exclusão
de ninguém e, mesmo tendo princípios que, por si só, bastariam para a
construção de um trabalho que respeite a dignidade de cada ser humano, ele é
aberto para o novo, para a construção de modos de funcionamento ainda não
previstos.
Nós, versusianos, como pessoas
que passaram por uma gratificante experiência de integralização de
conhecimentos e entendimento ético e complexo do ser humano, não somos mais
inspirados por ideias ilusórias, como Sancho, personagem de Miguel de
Cervantes, pois a ganância e o acumulo de riquezas são apenas o maior exemplo
do individualismo da era contemporânea, que tanto arrasa e complica a
convivência social igualitária. Lutamos por algo que diga respeito ao bem-estar
total, lutamos a favor de algo universal que transcenda a lógica posta.
Tampouco somos acomodados. Abdicar de parte de nossas férias para mergulhar de
cabeça na realidade do SUS, presenciar suas potencialidades, questionar seus
problemas e propor soluções são atribuições totalmente desafiadoras, que exigem
um distanciamento das informações unilaterais midiatizadas e exigem uma
caminhada que pode e deve ser permanente, pois a educação continuada é uma arma
muito poderosa contra a fadiga, a frustração e ainda nos fortalece para que não
deixemos a alienação nos engolir.
Tememos e amamos – somos todos
humanos, grãos de areia no mundo, partículas subatômicas no universo. E como é
bom ter consciência disso. Como é bom
saber que fazemos parte de algo maior, saber que não é na busca por riquezas,
visando elevar uma pequenice solitária, mas sim em monumentos compostos de
conquistas em conjunto que atingiremos uma satisfação, o sentimento de que
nossa passagem por essas terras valeu a pena, foi gratificante a um e a todos.
Nenhum homem ou mulher é uma
ilha – somos um arquipélago.
Gabriel S. C. Bernardi
domingo, 27 de janeiro de 2013
Sem um coração mar é breu
Passa
a pasta
no dorso
Pula
se joga
num sopro
Sente
a onda
no corpo
Surge
de volta
no topo
Molha
com água
o rosto
Maré
céu solar
um fosso
Mar é
seu olhar
seu rosto
a pasta
no dorso
Pula
se joga
num sopro
Sente
a onda
no corpo
Surge
de volta
no topo
Molha
com água
o rosto
Maré
céu solar
um fosso
Mar é
seu olhar
seu rosto
Gabriel S. C. Bernardi
sábado, 19 de janeiro de 2013
Cena na biblioteca
- Ainda bem que o pensamento não tem som!
Ouço um resmungo em resposta.
- Perdão. Pensei alto.
Gabriel S. C. Bernardi
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
O autor de alturas
De longe via meia dúzia de cômodos acesos
Com meias luzes que observo de todo calado
À esquerda as ondas vão ao topo
Por sobre as costas desse corpo
Ou por sobre a costa litorânea e fria?
Sinto na mão uma gota breve de epifania
O sono que já é tanto
Sugere ser a realidade
A base de todo o encanto
Outro pingo na face, outro na orelha
Quando findo uma fase, outra se esguelha
As luzes são confusas e a torrente
Tentando imitar difusa o invisível
É o manto a limitar o consciente
Será que o edifício continua ali?
Alguém me observa e me espera lá?
Já vi que durmo... Algum dia vivi?
Na hora em que o claro serpenteia o escuro
Vejo vasto o espaço por entre os tons
No entanto não é no alto prédio meu futuro
Mas no que tudo faço com meus próprios dons.
Gabriel S. C. Bernardi
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